Cerro Catedral

De manhã bem cedo, preparo-me para sair. Mochila arranjada, alguma comida, bebida e roupa de abrigo. Estou pronta para sair e fazer o trekking do Cerro Catedral. Apanho o autocarro que me leva para Vila Catedral, uma estância de ski a alguns quilómetros de Bariloche.
Subo três lanços de teleférico que me levam até ao cimo do monte Princesa, local onde se situa o refúgio Lynch. Aí, começo o meu trekking.
Estava a caminhar à cerca de 1 hora quando as dúvidas me começaram a assolar. É verdade que o guia dizia que o trekking era moderado mas em momento nenhum havia referência a necessidade de escalar ou a que seria prudente utilizar-se cordas para efectuar travessias. As primeiras duas horas, que vão do refúgio Lynch ao Cerro Catedral, são bastante exigentes em termos físicos e psicológicos. Não que haja grande desnível para vencer ou que o tramo seja íngreme; o problema é o tipo de trilho. O trilho consiste na superação sucessiva de rochas que se amontoam. É, em muitas situações, um nível quatro de escalada. Para baixo, um precipício de 500-600m. Se cair estou feita... basta um pé escorregar! Estive para voltar para trás mas decidi que iria caminhar cerca de duas horas e se o trilho não mudasse, aí sim, voltaria. Ainda bem que não o fiz.
Quando se chega à bifurcação que leva ao refúgio Jacob e Frey, o trilho torna-se mais fácil. Atravesso o conjunto de cerros que formam o Cerro Catedral. Parece que estou no centro da catedral. Estou rodeada por pináculos pontiagudos. É mágico.

Desço uma vertente rochosa vertiginosa. Em baixo, uma laguna glaciar fenomenal. Do lado esquerdo vêem-se alguns vetisqueiros (placas de gelo glaciar) nas vertentes. Sento-me na margem da laguna e respiro fundo. Nova descida e nova laguna, desta vez nas suas margens avisto o refúgio Frey, esplendorosamente localizado. Quando cheguei ao refúgio já levava quase quatro horas de caminho. Na margem da laguna almoço a comida que trouxe na mochila, e entranho a beleza do lugar. Estou rodeada por um circo glaciar magnífico, cujos cumes são horns perfeitos. Estendo-me no chão e sinto-me feliz.

Começo a descer passado uma hora. Pelo meio da floresta austral de pinheiros e choupos sigo o trilho. Por aqui não há dificuldade. No meio das árvores há enormes blocos erráticos transportados pelo glaciar que em tempos ocupou o circo. Há travessias que parecem saídas de uma actividade radical com pontes suspensas.

Depois de hora e meia de descida vejo o magnífico Lago Gutierrez. Páro frequentemente para tirar fotografias. Quando chego a Vila Catedral já passa das 17.30h. Hoje foram 7 horas de caminhada. Estou exausta, mas completamente satisfeita.

Andar na montanha sozinha tem muitos momentos de solidão e perigo, mas ao mesmo tempo é como se fizesse um retiro espiritual em cada trekking. Tenho tempo para contemplar a natureza, absorvê-la e saboreá-la. Cada vez gosto mais da alta montanha. Quando me perguntam: não tens medo de andar sozinha na montanha? A resposta é sempre a mesma: as pessoas más não vêm cá para cima! Medo, de quê???

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