Se em 2001, a primeira vez que
estive nas Phi Phi, me dissessem que passados 10 anos eu iria testemunhar a
crua realidade que tenho na frente dos olhos não iria acreditar. O que foi
feito do paraíso?
As águas cristalinas ainda cá
estão. O mar verde esmeralda com manchas azuis celestes continua brilhante. Os
barcos de cauda comprida coloridos continuam atracados na praia. A areia da
praia continua branca e com corais. O que mudou então em Koh Phi Phi?
Quando entro no ferry em Krabi
com destino a Koh Phi Phi percebo imediatamente que muito deve ter mudado. Há
centenas de turistas à espera no cais e prontos para embarcar. Levam caixas de
cervejas, wishky, etc. Mal o barco se aproxima do cais em Phi Phi Don, a maior
ilha, descubro que este destino está longe do paraíso que aqui vi em 2001. Há
dezenas de barcos atracados na baía: cruzeiros, barcos de agências de mergulho,
iates, lanchas e barcos de pesca. Com o porto assim, o que vi de seguida seria
mais ou menos de prever.
As ruas mais ou menos tranquilas
e com vendedores de artesanato deram lugar a becos ladeados de conglomerados
que se transformaram em bares, restaurantes e guesthouses. As ruas estão
apinhadas de gente e para se ver a praia é preciso desbravar uma selva humana
que cresceu desenfreadamente depois do tsunami de 2004. Ao que parece, o
tsunami arrasou as construções da ilha mas a forma como estas foram recuperadas
é catastrófica e um atentado à natureza. As praias estão praticamente
confinadas aos hotéis e bares e, quando tal não acontece, é decadente ver no
que se transformaram. O lixo amontoa-se na areia e os corais misturam-se com sacos
plásticos e garrafas vazias. Escuto na minha cabeça a letra da música dos GNR
"garrafas d'óleo boiando vazias nas ondas da manhã" e, de repente,
não me soa nada bem.
Qualquer sensação do paraíso
desfaz-se passado alguns minutos. A cor da água desfaz-se e os corais perdem-se
entre o lixo.
O único local da ilha onde se
sente que ainda estamos perante uma maravilha da natureza é um miradouro a
cerca de 300 m de altitude. Aqui, longe das multidões e do lixo, Koh Phi Phi
demonstra todo o seu esplendor. O homem destruiu um dos
arquipélagos mais bonitos do mundo. A ilha está completamente descaracterizada
e a capacidade de carga a que é sujeita pelo turismo massificado destruiu-a.
De forma a ver os efeitos deste
turismo, rumamos a Phi Phi Leh, a ilha mais pequena e onde foi filmado "A
Praia", com Leonardo DiCaprio. Aqui não há construções mas há centenas de
turistas que se amontoam à espera da fotografia. Refugiamo-nos num
canto da praia, debaixo de uma cavidade na rocha e aí desfrutamos do nosso
pequeno espaço do paraíso. Quando tomamos banho no mar descobrimos que também
aqui bóiam garrafas e plásticos vazios. Voltamos a Phi Phi Don. À noite
transforma-se numa discoteca gigante. Descobrimos de onde provêm as
"garrafas boiando vazias".
Até quando será possível estes
atentados? Até quando os turistas fecharão os olhos a este crescimento selvagem, que não obedece a regras, não respeita leis e não vê limites?
Para as Phi Phi não vejo grande solução. Talvez o tsunami tenha sido um sinal
que foi mal interpretado.