A grande metrópole tem muitas e
distintas faces. Mas para o visitante que percorre as suas ruas, muita da sua
história permanece incógnita, pois tal como os arranha-céus escondem o sol dos
transeuntes, os incêndios e as fundações dos novos edifícios apagaram para
sempre as marcas da história da cidade.
Não existem assim muitos
edifícios históricos (pré-séc. XX), e ainda menos da época colonial, mas é
possível visitar pontos de interesse relativos a este período, como por exemplo
algumas casas históricas em Staten Island, ou o Museu da casa de Van Cortlandt,
em Bronx, que chegou a ser usada como quartel-general de George Washington. Ou
então, passar pelo Museu da Cidade de Nova Iorque, ele próprio alojado numa
mansão do período colonial.
Na verdade, Nova Iorque começou
por ser Nova Amesterdão! Em 1625, foi fundado um entreposto comercial pelos
holandeses na ilha de Manhattan, cujo extremo sul tinha sido desflorestado
pelos nativos, sendo que alguns nomes actuais revelam a origem holandesa da sua
fundação, como Harlem. Neste período a cidade estendia-se até ao que é hoje
Wall Street, chamada assim pois era adjacente a um muro construído para
defender a cidade de ataques dos nativos. Mas o negócio de peles não rendeu o
esperado e a cidade foi passada para os ingleses em 1664, que lhe mudaram o
nome para Nova Iorque (New York), e este nome perdurou mesmo após o fim do
domínio inglês.
Durante o domínio colonial inglês
a cidade prosperou, e antes da revolução, era já a segunda maior das 13
colónias com cerca de 20 mil habitantes. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a
cidade impôs-se como a maior metrópole do novo país constituído pelos Estados
Unidos da América, sendo que 70% das indústrias estavam aí sedeadas e o seu
porto era responsável por dois terços do tráfego de bens importados pelo país.
O fluxo de emigrantes à cidade era impressionante, e os mais desafortunados
viviam em condições miseráveis nos bairros de lata de Lower Manhattan
(entretanto, as classes ricas tinham-se deslocado mais para norte, para
uptown).
No século XX, e principalmente no
período pós Grande Depressão e pós Segunda Guerra Mundial, a cidade
estabeleceu-se como a capital financeira do mundo e Lower Manhattan como a zona
emblemática desse poder, com direito a um conjunto de edifícios
convenientemente denominado World Financial Center. O bairro tem o skyline mais
conhecido do mundo, que pode ser apreciado de Ellis Island, ou no Staten Island
ferry, ou ainda do outro do rio, em Brooklyn.
Os poucos edifícios históricos
que restam, vivem à sombra dos arranha-céus, como a Trinity Church, que data de
1846, e a St. Paul’s Chapel, a única igreja sobrevivente do período colonial.
Do seu lado Este, o heliporto, os
cais de embarque de ferry e o South Street Seaport, um complexo de lojas e
restaurantes junto ao rio, rematam esta zona da cidade e permitem um passeio à
beira rio ou então, para os mais endinheirados, um passeio de helicóptero para
desfrutar do skyline visto de cima. E os helicópteros não param…
Desde bancos internacionais e
nacionais, como o Banco de Nova Iorque (criado por Alexander Hamilton em 1784
aquando da fundação da nação) ou o Banco Morgan, passando pela Bolsa de Valores
(fundada em 1817) e o Banco da Reserva Federal (com o seu famoso cofre-forte
subterrâneo que guarda a reserva nacional de ouro), até às agora famigeradas
agências de notação financeira, toda a instituição financeira que se preze tem
aqui a sua sede ou pelo menos uma vistosa representação.
Todas as crises mundiais, sendo a
mais recente de 2008, mas também os períodos de expansão económica, têm como
imagem de marca este bairro desta grande cidade.
Muito aconteceu desde que os
mercadores holandeses compraram a ilha aos nativos por uns míseros artigos de
quinquilharia, mas a sua génese mercantil e especulativa está bem de acordo com
aquilo em que se tornou. Se alguém tem dúvidas onde trabalham os donos do
mundo, visitem Lower Manhattan e ficarão esclarecidos. E quer se acredite, ou
não, é aqui que se joga o futuro, também, do nosso pequeno país à beira mar
plantado.