O céu está completamente azul
escassamente ponteado por nuvens que se erguem como castelos num cenário. O sol
brilha e ilumina as majestosas paisagens à nossa frente. Está sol mas não está
quente. É o Verão na Islândia. Apesar de a temperatura não passar dos 18ºC, o
dia está perfeito.
Hoje foi dia de explorar o Golden
Circle, o circulo dourado da Islândia. Este circuito reúne uma série de
atracções turísticas num raio de 100 km de Reykjavik: Tingvellir, Geysir e
Gullfoss. Conduzir neste círculo dourado não é fácil, já que pela nossa janela
sucedem-se maravilhas naturais que ameaçam os nossos vocábulos adjectivais. O
mundo visto desta minha janela é lindo.
Começamos o nosso dia pelo Parque
Nacional de Tingvellir, onde nadamos no contacto das placas tectónicas. Finda
essa aventura, pegamos no nosso carro da
Procar.is e rumamos ao primeiro parlamento
democrático do mundo, criado pelos Vikings, em 930 a.C. e que tem uma vista
deslumbrante sobre o rift. Este é o melhor local para observar o contacto das
placas tectónicas e presenciar as forças da natureza.
As bases da democracia islandesa
foram aprendidas na Noruega (já nessa altura um exemplo para o mundo) e
transpostas para a realidade do país. Apesar da democracia islandesa se basear
nas assembleias regionais, foi necessário arranjar um lugar onde os
parlamentares se reunissem, discutissem, argumentassem e decidissem alguns dos
maiores problemas da nação, nomeadamente a definição das regiões, contratos
matrimoniais, leis, etc. O anfiteatro natural aqui existente amplificava os
sons e permitia aos oradores serem ouvidos por toda a multidão que se juntava
no parlamento. O parlamento funcionou em pleno até ao século XIII (quando a
Islândia passou a viver sob domínio norueguês) mas o parlamento só foi
dissolvido oficialmente no século XVIII.
Dos Vikings pouco ou nada resta,
no entanto o espírito democrático ainda deve andar por aqui já que aquando da crise
de 2008 (bancarrota do estado islandês), os islandeses juntaram-se num governo
popular, exigindo a prisão dos responsáveis e dos banqueiros. Os culpados pela
lapidação do Estado foram postos atrás das grades e lentamente o país foi
recuperando.
Mas tínhamos que continuar o
nosso caminho desta vez em direcção a Geysir, o geyser que deu nome a todos os
geysers. Outrora, daqui saíam repuxos de água que chegavam a atingir
mais de 80 metros de altura. E a expressão certa é mesmo "saíam" porque hoje já
não saem. Infelizmente, foram os turistas os responsáveis por este desfecho já
que lançavam pedras sobre a abertura, levando à sua obstrução. Depois do
sismo de 2000, a actividade vulcânica foi diminuindo, mas felizmente apareceu
um geyser mais à frente, de seu nome Strokkur com erupções de água quente
regulares (entre cada 5 ou 10 minutos). Mais um magnífico espectáculo que a
natureza nos proporcionou.
Sentamo-nos no chão e aguardamos.
Aguardamos que a natureza mostrasse a sua força e nos reduzisse a peças
insignificantes. E ela fê-lo. As erupções são excepcionais. É uma sensação
extraordinária aquela que temos quando estamos perante tais forças da natureza.
Sou completamente viciada nestas sensações. São as mesmas que me arrastam para
os glaciares.
Mas, a viagem prossegue em
direcção a Gullfoss, uma queda de água monumental cujo nome significa cataratas
douradas. Está longe da magnificência do Iguaçu ou de Niagara mas as mais
famosas quedas de água da Islândia não desiludem nem o viajante mais
experiente. A queda tem 32 metros de altura e desaparece numa ravina apertada.
Felizmente, esta maravilha da natureza resistiu ao avanço do capitalismo. Em
tempos esteve projectada uma barragem no local e apesar dos protestos dos donos
das terras e da população, o governo autorizou o projecto. Felizmente, o acordo
com os investidores foi anulado devido à falta de pagamento da licença e hoje
podemos continuar a vislumbrar mais esta maravilha da natureza.
Da janela do carro continuo a
contemplar a paisagem em direcção a Selfoss, uma povoação onde paramos para
fazer compras. Vejo igrejas, casas cobertas de vegetação, pequenas crateras
vulcânicas ocupadas por águas, cones vulcânicos e vulcões como pano de fundo.
Prosseguindo viagem, vamos em direcção a Hvolsvollur, a povoação onde vamos
pernoitar. Pelo caminho ainda subimos à cratera de Kerio. O tempo aqui já tinha mudado, começando a ficar muito nublado e ameaçando chover.
Mas decidimos não parar aí, seguimos para Seljalandfoss, mais uma bela queda de água de um cenário idílico. E, quase nem preciso sair do carro para a contemplar. Da janela do carro já se vê o seu esplendor. Mas, ninguém resiste em contemplá-la apenas daí. Há que sair do carro, percorrer os trilhos à volta da queda, contemplar a magnífica lagoa verde onde a queda de água termina, e inclusive caminhar por trás da queda. Um destino predilecto dos casais enamorados islandeses.
Regressamos a Hvolsvollur,
nomeadamente ao
Hótel Fljótshlíð Smáratún Farm, uma pequena quinta a 13 km da povoação. O nosso quarto é fantástico e acolhedor.
É magnífico relaxar no final do dia num lugar assim. Não me ocorre nada melhor.
E, quando olho pela janela do meu quarto contemplo mais uma paisagem
deslumbrante. O vulcão Eyjafjallajokull está mesmo em frente da minha janela. O
dia de hoje permitiu-me concluir algo muito elementar. De qualquer janela da
Islândia eu vejo um mundo melhor.
Dados práticos:
Nome:Hótel Fljótshlíð Smáratún Farm
Morada: 861 Hvolsvelli
Hvolsvollur
Iceland
phone: +354
487 1416
Email: smaratun@smaratun.is
Site: http://www.smaratun.is/
Avaliação: *****