De Hvolsvollur a Skaftafell, uma viagem pelo sudoeste da Islândia.

Depois de uma noite bem dormida no Hotel Fljotshlid (ainda que para isso as cortinas tenham de ser bem corridas de modo a não deixar entrar a claridade da noite islandesa!), partimos em direcção à cidade de Skogar e à queda de água homónima. Esta é impressionante pela sua altura (cerca de 50 m) mas também pelo seu enquadramento numa paisagem povoada por outras quedas vizinhas.


Quando chegamos, ainda não andavam por lá muitos turistas, mas sabíamos que isso não ia durar muito, por isso apressamo-nos a fazer o circuito pedestre por cima da cascata com cerca de 4 km. Em alguns momentos, é melhor correr se não se quiser ficar completamente molhado com a água projectada (com cuidado, no entanto, pois o piso está escorregadio), mas isso é compensado por panorâmicas invulgares a que não se tem acesso noutras quedas de água.



Seguindo caminho, aproximavamo-nos do território dominado pelo Myrdalsjokull, o quarto maior manto de gelo da Islândia, com uma área de aproximadamente 700 quilómetros quadrados, e com uma profundidade de gelo a atingir os 750 m! O nosso orçamento e o tempo disponível não nos permitiam uma exploração do manto de gelo propriamente dito, mas não podíamos deixar passar a oportunidade de nos acercarmos dele, ou seja, caminhando numa das suas línguas glaciares. Destas, a mais acessível, de seu nome Sólheimajokull, estende-se quase até à estrada n.º1, sendo apenas necessário percorrer 5 km numa estrada (222) de terra batida, em condições razoáveis para um carro como o nosso. Do parque automóvel, basta uma pequena caminhada para se ficar de frente com o gigante de gelo que desce suavemente das alturas do manto de gelo. À semelhança de muitos outros na Islândia e no resto do mundo, tem retrocedido a olhos vistos nos últimos anos, largando enormes pedaços de gelo que, cobertos de cinza vulcânica, se confundem com as margens do rio.



Aventuramo-nos um pouco na frente do glaciar, de perfil quase plano, coberto de detritos resultantes do degelo. Pela sua acessibilidade, este é um dos glaciares mais populares entre turistas e locais, por isso são muitos aqueles que pisam o gelo, desde crianças até aos mais velhos, de forma independente, como nós, ou em tour organizada, ou seja, nas chamadas "glacial walks". Como demoramos algum tempo sobre o glaciar, quando descemos estava na altura de comer umas sandes, ali mesmo, de frente para o glaciar.



Dali, seguimos para a cidade de Vik. Mas antes de lá chegarmos, paramos em duas atracções locais costeiras. A primeira, Dyrhólaey, é um promontório famoso pelas suas formações rochosas, pelas praias de areia negra e pela observação privilegiada de pássaros. Hoje em dia, muitos jovens são também atraídos pelo que é um dos locais de filmagens da série "Game of Thrones"...



A segunda, Reynisfjara, um pouco mais a leste, é uma praia com um impressionante conjunto de colunas basálticas, não faltando as grutas e mais pássaros nas falésias. A completar o cenário, erguem-se duas formações rochosas ao largo, de seu nome Reynisdrangur, que espreitavam na neblina que teimava em não levantar.



De seguida, chegamos à bonita cidade de Vik, da qual se pode ter uma bela vista panorâmica, a partir do seu cemitério (acima da igreja). Depois de abastecermos o tanque de gasolina, continuamos para leste, e atravessamos um imenso campo de lava, Myrdalssandur, resultante das erupções do vulcão Katla. É uma extensão desolada e sem vida, enorme (aproximadamente 700 quilómetros quadrados), estendendo-se até ao horizonte lava retorcida nas mais diferentes formas, agora cobertas de musgo. É um lugar que os locais acreditam ser assombrado e a verdade é que, com o nevoeiro que se fazia sentir, o ambiente era mesmo fantasmagórico!



Mais à frente visitamos mais uma formação natural de origem vulcânica, desta vez um chão de prismas basálticos hexagonais, cujo nome (Kirkjugolf) vem do facto de que no passado foi confundido com o chão de uma igreja. É perto da cidade (ou melhor, cruzamento de estradas) de Kirkjubaejarklaustur, cuja extensão do nome não é proporcional à sua população: 120 habitantes!



A partir daqui, entramos no domínio do Vatnajokull, o maior campo de gelo da Islândia, com cerca de 8100 quilómetros quadrados (quase um décimo de Portugal!) e com gelo que pode atingir 1 km de espessura! Atravessando uma enorme planície de outwash (rios e detritos libertados pelos glaciares), a neblina foi levantando e de repente começamos a ver as monstruosas formas glaciares que nos rodeavam: o gigantesco Skeidararjokull e o mais estreito Skaftafelljokull. Foi junto deste último que acabamos o nosso (já longo) dia, montando a nossa tenda no parque de campismo e rezando para que o tempo nos reservasse melhor sorte no dia seguinte. Mais aventuras nos esperavam...


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