Em overland pelo Quénia e Tanzânia

Esta viagem pelo Quénia e Tanzânia foi uma primeira vez para nós, em muitos aspectos. E como primeira vez, se por um lado não devemos dar demasiada importância, pois certamente se seguirão novas experiências, por outro lado convém fazer um balanço e tirar algumas conclusões quanto ao futuro.


No nosso mapa-mundo, há dois continentes que claramente estão em desvantagem, em termos de visitas: África (subsariana) e Oceânia. Sentíamos que tínhamos de tentar remediar essa situação, por isso quando pesquisamos destinos prováveis para as férias de Natal de 2014, um circuito na África Oriental foi desde logo um dos preferidos. E depois de verificarmos o preço, datas e itinerário de um circuito "overland" no Quénia e Tanzânia, deixamos de ter dúvidas. Optamos por um circuito de 8 dias em camião, num grupo que rondaria as 20 pessoas, e com noites em acampamento, com tenda para 2 pessoas e onde teríamos que ser nós a ajudar a cozinhar, limpar, lavar a louça e arrumar as coisas.



Foi a primeira incursão do Viajar Entre Viagens num itinerário não delineado por nós, numa viagem guiada, e partilhada com outras pessoas. Esse facto criou em nós algumas expectativas. Por um lado, não tínhamos de nos preocupar com qualquer tipo de planificação da viagem, excepto a marcação dos voos e os dias-extra. E isso é bom, para variar. Mas por outro lado, sabíamos que não íamos ver tudo o que queríamos, mas sim o que nos levariam a ver.





Em relação à companhia, também estávamos ansiosos, pois normalmente vivemos muito a nossa viagem, não compartilhando muito com outros viajantes. Desta vez, teríamos de conviver 24h/dia com um grupo de (presumivelmente) várias nacionalidades, para além de um guia, o cozinheiro e o motorista. E se há uma coisa que todo os viajantes sabem, é que não é fácil viajar com alguém.


Finalmente, estávamos também conscientes que o contacto com as populações locais iria ser muito menor do que nas nossas viagens, perdendo-se assim também o contacto com os próprios países. Apesar disto, resolvemos que estava na altura de experimentarmos uma nova forma de viajar. E a verdade é que, com as limitações de tempo e dinheiro, esta era realmente a melhor e mais económica forma de fazer um circuito no Quénia e Tanzânia, abarcando dois dos melhores sítios de observação de vida selvagem no mundo: o parque de Serengeti e a cratera de Ngorongoro. Porque, afinal, à parte a incursão pelo bairro de Kibera em Nairobi, a perspectiva cultural da nossa viagem era claramente secundária, face à nossa prioridade, que era a observação de vida animal.


Passada a viagem, está na altura de fazer um balanço. A viagem foi bem organizada, e bem estruturada. No tempo que tivemos, era difícil ver mais, ainda que o camião fosse às vezes lento. O pessoal da empresa era profissional e muito simpático, e foram uma óptima companhia e apoio durante toda a viagem. Os nossos companheiros de viagem, maioritariamente de nacionalidade norte-americana e britânica (com a excepção de 2 alemães, um casal japonês e dois australianos), formavam um grupo que, no cômputo geral, conseguiu funcionar muito bem. É natural, por temperamento, idade ou bagagem cultural, que as pessoas se sentissem mais à vontade com umas do que com outras, mas isso nunca pôs em causa a unidade do grupo. Nós, por exemplo, ficamos muito próximos de um dos alemães, de ascendência grega. Porque será? ;)



Em relação à vida selvagem e aos locais que visitamos, a viagem também esteve à altura das expectativas. Os furtivos leopardos e as rápidas chitas não se deixaram avistar, mas sabíamos que a observação de vida selvagem no seu habitat é mesmo assim, não obedecendo a regras fixas. O Serengeti e a cratera de Ngorongoro são as principais atracções da viagem, são locais de fama mundial e, sem dúvida, merecida. Vimos leões, manadas de elefantes, rinocerontes, hipopótamos, girafas, hienas, gnus, zebras, avestruzes, babuínos e centenas de antílopes de espécies distintas.




No que toca ao contacto com os locais, realmente sabe a pouco. Esse contacto é minimizado, não sendo necessário ao viajante lidar com as pressões inerentes ao contacto com o terreno, como o ter de lidar com o dinheiro local ou ter de se desenrascar em transportes locais. A nosso ver, este é o único ponto negativo, não desta viagem em particular, mas desta forma de viajar. 



Os mais radicais dirão que fazer um circuito organizado deste tipo não é viajar, mas fazer turismo. Poderá ser, mas a verdade é que no tempo que tínhamos, e com as limitações de transporte público nesta parte do mundo, se tivéssemos viajado por nossa conta, nunca teríamos visto tudo o que vimos. Pagamos um preço por isso, talvez, mas fomos recompensados de outras formas. E viajar é isso mesmo, fazer opções e, principalmente, aproveitar e apreciar a viagem.



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