Trekking invernal e viagem ao interior do glaciar Lars

Domingo de Páscoa. 8.30 h da manhã. Esperamos a boleia da carrinha da Svalbard Wildlife Expeditions para um tour que aguardamos com expectativa. O nosso guia, Mirko, chega e, sorridente, apresenta-se. A coincidência da data religiosa (mais de festa nocturna por estes lados) faz com que sejamos os únicos a fazer a tour hoje. Temos assim um guia privado só para nós!



Desde que preparamos a viagem a Svalbard, sabíamos que queríamos fazer um trek pelas montanhas, apesar das condições atmosféricas poderem não ser as melhores, de forma a apreciar mais de perto a beleza do inverno em Svalbard. Resolvemos juntar o útil ao agradável, e arranjamos, junto da Svalbard Wildlife Expeditions, um tour que combina um trek sobre um glaciar (aproximadamente 2h de subida e 1h de descida) e a entrada numa gruta de gelo. Assim, podemos desfrutar de uma caminhada em ambiente invernal e uma visita ao interior de um glaciar.



Dirigimo-nos de carrinha até ao extremo sul de Longyearbyen, onde nos equipamos com crampons e bastões, e guardamos os capacetes e lanternas nas mochilas para mais tarde. A previsão do tempo não era muito boa. O dia começava cinzento, e o vento ameaçava atingir valores incomodativos, especialmente em montanha. Mas a verdade é que, apesar do sol não aparecer, o vento também não se fazia sentir, e o dia era o mais quente desde que tínhamos chegado: uns impressionantes – 5 °C!



O Mirko é italiano, muito simpático e entusiasta das montanhas, e rapidamente encetamos uma animada conversa. O nosso destino é o glaciar Lars, um dos dois localizados nas redondezas de Longyearbyen. Depois de atravessarmos o leito do rio, que no verão escorre a água do degelo do glaciar mas que agora está completamente gelado e coberto de neve, iniciamos a subida da montanha. A neve está fofa, mas por vezes passamos por zonas em que a superfície é gelo duro. A subida é um pouco íngreme, mas o Mirko faz algumas paragens de descanso e continua sempre na conversa. Quando, mais acima, nos disse que já estávamos em cima do glaciar, ficamos surpreendidos, pois a neve cobria completamente qualquer vestígio da superfície gelada do glaciar.





A partir daqui, o relevo tinha um declive bastante mais acentuado, acompanhando o perfil inclinado do glaciar. Paramos um pouco para tomar uma bebida quente e, quando avistamos os sinais que marcavam a entrada da gruta, o vento já se fazia sentir, e o Mirko teve de escavar um pouco para retirar a neve fresca que cobria a entrada. Equipamo-nos com o capacete e a lanterna frontal e descemos, deslizando por um túnel de cerca de dez metros até uma pequena antecâmara, que é o início da gruta.




Na realidade, o que estamos a visitar não é uma gruta de gelo, mas sim um canal de escorrência da água do degelo do glaciar. No Verão, a água escava uma rede de túneis no interior do glaciar, que no inverno estão secos e podem ser explorados. O interior é assim um túnel ladeado por paredes de gelo, com sedimentos de diferentes dimensões.




O tecto do túnel nunca está a mais do que 4-5 metros de altura, e por vezes podem admirar-se formações de estalactites de gelo. A descida é por vezes de declive acentuado, sendo necessária a ajuda de cordas ou escadas, o que denuncia a trajectória seguida pela água em direcção à frente do glaciar, muito mais abaixo no vale.




Por vezes o túnel estreita bastante, e numa das descidas é praticamente da largura dos nossos ombros. Acho que deveríamos ter feito dieta antes desta tour! O Mirko vai dando pormenores relativos ao glaciar, mas como temos uma especialista connosco, ele e eu aproveitamos para aprender com a Carla um pouco mais acerca da formação destes túneis e da dinâmica dos glaciares.




O “fim” do túnel é um buraco quase na vertical e, por razões de segurança, a visita não pode ir mais além. Voltamos para trás. A escuridão seria completa, se não fossem as lâmpadas dos nossos capacetes, assumindo o gelo diferentes tonalidades quando iluminado.




Até então, a gruta tinha sido só para nós. Na subida, cruzamo-nos com um grupo grande que iniciava a descida, e à saída, enquanto os nossos olhos se habituavam à claridade da neve e gelo circundantes, chegava mais um grupo. O vento estava forte e a neve levantava e atingia-nos na cara.



Começamos a descer, a favor do vento. O sol dava um ar da sua graça e o céu mostrava alguns tons de azul. Em cerca de uma hora, estávamos de volta à carrinha e era tempo de regressar à cidade. Apesar de um pouco cansados, sentíamo-nos perfeitamente satisfeitos, tendo o tour estado à altura das nossas expectativas. Para aqueles que amam as montanhas, neve e gelo, esta aventura é altamente recomendável.



Dados práticos:

Morada: Næringsbygget Pb 164
9171 Longyearbyen

Preço: 730 NOK

Tlf: +47 79 02 22 22

Email: info@wildlife.no

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