DICAS de viagem... na SERRA DA FREITA

Durante os meus anos de infância e adolescência passei várias temporadas na Serra da Freita. Os meus pais iam frequentemente lá passar fins-de-semana, aproveitando para ficar nas casas dos guardas florestais (hoje a maioria abandonadas). Na altura, levantava-se a chave na CM de Arouca. Passei aqui várias passagens de ano, férias de Carnaval e até de Páscoa. As caminhadas eram constantes, com percursos pedestres longos, explorando os recantos escondidos da serra. 


Os meus pais e os amigos pertenciam ao grupo de montanhismo do Clube de Campismo de São João da Madeira, e eu também. Confesso que enquanto era miúda não achava grande piada às noites geladas, ao vento e à neve nos trilhos. Mas, o tempo foi passando e acho que o hábito acaba por fazer o monge. À medida que me tornava adolescente comecei a apreciar cada vez mais o contacto com a natureza e a aprendizagem pela proximidade. Comecei a brilhar nas aulas de Ciências e Geografia devido aos ensinamentos que tirava dos trilhos efectuados na montanha, da experiência nas visitas às minas abandonadas, do contacto com a população das aldeias. 


O tempo foi passando e as nossas vidas tomam diferentes rotas. Com a entrada na Universidade em Coimbra, a Freita ficou para trás. Havia agora que conhecer muito mais território nacional. Foi isso que fiz. Com a independência económica, até Portugal acabou por ficar para trás. Primeiro veio a Europa e depois o resto do mundo. Assim, a vida acabou por me desviar da Freita, o local que me viu crescer e tornar mulher. 


Vinte anos passaram. Talvez mais. Acho que há mais de 20 anos que não vinha à Serra Freita. Mas, eis senão quando o destino nos prega uma partida. Um grupo de amigos de faculdade decidiu juntar-se e passar um fim de semana na natureza. O destino: Serra da Freita. A Freita mudou muito nos últimos 20 anos. Está longe de ser o local inóspito e vazio que era há anos atrás. A Freita já não é um lugar para passar uns dias isolado do mundo, mas é ainda um dos lugares mais bonitos e incríveis de Portugal. 


A Serra da Freita integra agora o Geoparque de Arouca e há vários trilhos marcados (e bem marcados) para explorar, geossítios de interesse particular e até um parque de campismo. Assim, em tom de regresso a este recanto de Portugal, resolvi criar as melhores dicas de viagem para preparar uma aventura na Serra da Freita. 



DICAS GERAIS
- A opção mais económica de alojamento é o campismo rural do Merujal, em plena Serra da Freita. 
- Procurar viajar fora dos meses de Julho e Agosto porque está bastante calor (se só conseguir ir no Verão, vá na mesma);
- Levar comida para preparar no camping pois permitir-lhe-á poupar imenso dinheiro nas refeições;
- Usar garrafas recicláveis e encher água da torneira, ou das nascentes, todos os dias de manhã. A água é de boa qualidade. É apenas um comportamento sustentável;
- Escolher bem os lugares onde se vai almoçar (especialmente devido às paisagens maravilhosas). Leve pic nic. É económico e permite aproveitar melhor o dia. 
- Não perca os maravilhosos Passadiços do Paiva criados em Junho de 2015. 
- Faça alguns dos percursos pedestres da serra. Se não tiver tempo para os fazer todos, faça um ou vários. Escolha aqueles que mais lhe interessam. Para tal, pode consultar a página do Geoparque de Arouca que tem a lista dos percursos.  
- Explore as praias fluviais mais escondidas e selvagens da Freita.
- Prepare a sua viagem tendo em atenção a falta de transportes públicos. 


ONDE DORMIR?
Parque de Campismo do Merujal (Refúgio da Freita)
Em plena Serra da Freita, este parque de campismo fica próximo da aldeia do Merujal e possui bons equipamentos. Tem balneários limpos, locais para lavar roupa e louça. Para além disso, tem bar e restaurante e pratica preços acessíveis. Por um carro, uma tenda e duas pessoas pagamos 11.50€/noite. Pode entrar em contacto com o parque através de email (geral@naturveredas.com) ou tel. 256 947723. Para mais informação poderá consultar o site www.naturveredas.com.



COMO CHEGAR?
O Geoparque de Arouca situa-se no concelho de Arouca, a aproximadamente 65 km do Porto, 120 km de Coimbra e Braga e 310 km de Lisboa. Mas pode subir a Serra da Freita desde Arouca ou desde Vale de Cambra (Chão de Ave). O ideal é subir por um lado e descer por outro.   
Mapa do Geoparque de Arouca
Norte: Siga a A1 em direcção ao Porto. Daqui pode seguir a A32 em direcção a Vale de Cambra, onde sai. Aí segue para Carregosa/ Chão de Ave/ Arouca pela estrada nacional N224. Pode subir para a serra em Chão de Ave ou em Arouca. 
Sul: Siga a A1 no sentido Lisboa – Porto. Saia em Estarreja/ Oliveira de Azeméis. Siga em direcção a Vale de Cambra/ Chão de Ave/ Arouca pela estrada nacional N224. Pode subir para a serra em Chão de Ave ou em Arouca. 


O QUE FAZER?
Há imensas actividades a realizar na Serra da Freita. Pode desfrutar da natureza sem gastar dinheiro nenhum e essa é que é a grande vantagem de visitar este recanto de Portugal. Assim, estes são alguns dos nossos conselhos.

Percursos Pedestres: Pode fazer 16 percursos disponíveis no Geoparque. Nós ainda não os fizemos todos mas estamos com vontade de experimentar. Assim, à medida que os vamos fazendo, iremos actualizando o blog. Os itinerários e mapas do percurso, com informação detalhada, estão disponíveis no site do Geoparque, inclusive com mapas em pdf para download. Imprima e leve estes mapas, já que o Geoparque não tem estes folhetos individuais para distribuir. Os percursos disponíveis são:
PR-1. Caminhos do Montemuro - 19 Km em circuito - Cerca de 4 horas
PR-2. Caminhos do Vale Urtigosa - 11 Km em circuito - Cerca de 5 horas
PR-3. Caminhos do Sol Nascente - 13 Km em circuito - Cerca de 6 horas
PR-4. Cercanias da Freita - 13.3 Km em circuito - Cerca de 3 horas
PR-5. Rota das Tormentas - 16.2 Km em circuito - Cerca de 6 horas
PR-6. Caminho do Carteiro - 14 Km em circuito - Cerca de 4 horas
PR-7. Escarpas da Mizarela - 8 Km em circuito - Cerca de 3.5 horas
PR-8. Rota do Ouro Negro - 6 Km em circuito - Cerca de 2.5 horas
PR-9. Rota do Xisto - 16 Km em circuito - Cerca de 6 horas
PR-13. Na Senda do Paivô - 9 Km em circuito - Cerca de 3 horas
PR-14. A Aldeia Mágica - 8 Km em circuito - Cerca de 2.4 horas
PR-15. Viagem à Pré-história - 17 Km em circuito - Cerca de 5/6 horas
PR-16. Caminhada Exótica - 9 Km em circuito - Cerca de 3 horas

O PR-7 é o único percurso de dificuldade elevada. Os outros têm dificuldade baixa ou média. 


Centro de Interpretação das Pedras Parideiras: As pedras parideiras são um dos geossítios mais importantes da Serra da Freita devido à sua singularidade geológica. Aqui, os blocos graníticos apresentam nódulos biotíticos que se individualizam na rocha e que devido às amplitudes térmicas registadas são projectados pela rocha-mãe (daí o termo "pedra parideira"). A Serra da Freita possui um dos poucos locais do mundo onde podem ser observados estes fenómenos geológicos. Para além deste sítio, só há registo de fenómeno idêntico num local no Reino Unido. O Centro de Interpretação é composto por dois pisos. A entrada no piso superior, onde está a loja, e o percurso pelos passadiços onde se podem observar as pedras parideiras é gratuito. Só se desejar visualizar o filme 3D "Pedras Parideiras: Um tesouro geológico" é que deverá pagar 2.5€. O centro está aberto todos os dias das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 17h00.

Centro de Interpretação Geológica de Canelas: A primeira vez que visitei este local andava na faculdade. Não havia aqui nenhum centro de interpretação, apenas uma pedreira. O dono, cujo nome já não recordo, recebeu-me muito bem e quando soube que era estudante de Geografia levou-me numa visita guiada por ele à pedreira, mostrando-me com orgulho as gigantescas trilobites recentemente descobertas. Hoje, parte da pedreira foi preparada para receber entusiastas da geologia mas visitantes mais leigos também. Nós ainda não tivemos tempo de visitar este local depois que abriu o centro. A pedreira do Valério, a caminho de Espiunca, é um dos poucos locais do mundo onde foram encontrados fósseis gigantescos de trilobites do Ordovícico (465 milhões de anos). Este é um local de referência geológica a nível nacional e internacional. Merece certamente uma visita. Está aberto de terça a sábado, das 10h às 17h, e aos domingos, das 14h às 17h. Uma visita ao museu e à unidade de transformação custa 4€. Se quiser participar na caça ao fóssil ou na Rota Paleozóica acresce 2€. Visite o site para mais informações. 

Passadiços do PaivaA Câmara de Arouca construiu um percurso em madeira de cerca de 8 km, quase todo em estruturas suspensas no vale. O percurso liga Espiunca a Alvarenga sempre acompanhando as vertentes rochosas e escarpadas ao longo da margem esquerda do rio Paiva. O percurso pode ser feito nos dois sentidos e se for sozinho terá que voltar para trás, o que perfaz um total de 16 km, já que se trata de um percurso linear. No entanto, como tínhamos vários carros, dividimos os carros pelos dois locais e fizemos apenas o percurso para um dos lados, permitindo-nos ter bastante tempo para aproveitar a paisagem, parar para comer, beber, tirar fotografias e até ir a banhos nas magníficas praias fluviais que encontramos no percurso. Para mais dicas veja aqui.  


Radar Meteorológico de Arouca: Para quem gosta de vistas aéreas este é o local. Designado por "Panorâmica da Costa da Castanheira", este miradouro com 360 graus, envidraçado, permite subir 50 metros de altura, o equivalente a cerca de 12 andares, para contemplar os vales e montanhas circundantes. Em dias limpos é possível ver a Serra do Montemuro e Marão a nordeste, Serra do Caramulo, Estrela e Lousã a sul, Ria de Aveiro a oeste. Até o rio Vouga é visível da torre. Há visitas guiadas todos os dias da semana: das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00 e aos fins-de-semana às 09h30, 10h15, 11h15, 12h00, 14h00, 14h45, 15h45 e 16h45. O radar localiza-se a 1100 metros de altitude e está equipado com o mais moderno equipamento da rede do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). A visita custa 4€. 


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