Mergulhar com o Grande Tubarão Branco na África do Sul

Quem já não sentiu, depois de ter visto o filme “Tubarão” (Jaws), de Steven Spielberg, uma inquietação ao contemplar uma praia ao fim do dia, com as suas águas ainda iluminadas pela luz do lusco-fusco, mas já negras, a antever a noite que se aproxima? Quem nunca sentiu medo por aquilo que se possa esconder nas profundezas de um universo que não é o nosso? A verdade é que o cinema molda a nossa consciência colectiva e Spielberg é o mestre por excelência. Mas a personagem central do filme, o Grande Tubarão Branco, representado como uma máquina assassina silenciosa e implacável, e cega na escolha da sua presa, é como todas as personagens, inspiradas na realidade, mas ultrapassando-a em muitos aspectos. Sendo assim, não devemos confundir o animal que podemos encontrar na natureza com a criação de Spielberg. Há semelhanças, mas também há muitas diferenças. 


A Marine Dynamics é uma companhia que trabalha a partir de Gansbaai, perto de Hermanus, África do Sul, e que tem como objectivo fundamental, para além do negócio turístico, alertar consciências para a verdadeira natureza deste animal e as dificuldades que ele enfrenta no mundo moderno. Não se limitando ao plano teórico, a Marine Dynamics apoia o trabalho científico no terreno, colaborando com biólogos marinhos, que estudam a população de tubarões brancos na área, registando as movimentações anuais e seguindo diversos indivíduos. Quem compra uma tour de "Shark Cage Diving" está também a cumprir a sua parte neste esforço colectivo para compreender melhor e proteger este maravilhoso animal.

Foi por tudo isto que escolhemos a Marine Dynamics para nos proporcionar esta experiência de contacto próximo com o Grande Tubarão Branco, no seu habitat natural, mergulhando ao seu lado, mas protegidos devidamente por uma jaula. 


O nosso ponto de encontro era a "Great White House", sede da empresa, em Kleinbaai, logo à saída de Gansbaai. Fomos recebidos com um almoço quente e delicioso, que nos confortou e animou para a aventura que se seguiria. Um briefing por parte de uma responsável da empresa informou-nos dos pormenores, seguindo um registo formal e o vestir de todo o equipamento necessário: fato e sapatos térmicos, óculos, casaco e colete salva-vidas. Quando entramos no barco, estávamos já preparados para entrar na água.

A viagem de barco é curta, em direcção a uma ilhota ao largo, onde se concentra um número impressionante de leões marinhos e focas, fonte de alimento dos tubarões brancos. Como é Inverno por estas bandas, o frio faz-se sentir, a ondulação é considerável e, somos informados, a temperatura da água ronda os 14 graus celsius. Nada mau...

Nesta viagem somos acompanhados, para além dos cerca de 30 turistas, por uma equipa de cerca de 15 pessoas que têm tarefas bem definidas, e nas quais se incluem 2 cientistas, 4 voluntários internacionais e uma bióloga da Marine Dynamics. Mas para atrair os animais são indispensáveis os serviços daqueles que preparam uma espécie de sopa de restos de peixe, que é lançada ao mar, e aqueles que lidam com o isco de peixe e um outro de madeira com a forma de uma pequena foca.
 
Quando chegamos ao local escolhido, a jaula é lançada ao mar e presa ao lado do barco. Nela cabem 8 pessoas de cada vez, sendo gradeada por todos os lados, mas permitindo uma boa visualização para a frente e para os lados. Os 2 corrimões permitem às pessoas segurarem-se e mergulhar rapidamente. Como os movimentos dos tubarões são rápidos, não é necessário tubo. Eu pertenço ao grupo que irá em primeiro lugar. Curiosamente, por sugestão da Carla... :D

A água está fria, mas o corpo adapta-se com a ajuda dos 7 mm do fato térmico. Mergulho algumas vezes para testar os movimentos num espaço tão confinado. É estranho estar do lado de dentro de uma jaula, à espera que os animais, em liberdade, nos dêem uma olhada. Não é preciso esperar muito tempo para o grito de aviso dos lançadores de isco nos levar a suster a respiração e mergulhar rapidamente. Um Grande Tubarão Branco passa a escassa distância (inferior a 5 metros) da jaula, como que a sondar o que se está a passar. Impressionante!

A visibilidade debaixo de água não é excelente, mas permite-nos ter uma boa visão dos animais. No entanto, o seu movimento é tão rápido que parecem aparecer e desaparecer na escuridão das águas num piscar de olhos. É preciso muita atenção e também alguma sorte no lado da jaula que os tubarões "visitam". Depois de cerca de 30 a 40 minutos na água, e de vários avistamentos, é hora de sair e dar lugar ao próximo grupo. No total, serão 4 grupos a entrar na água.

Fora de água, a perspectiva é diferente, mas igualmente espectacular. Estamos tão perto que parece que os tubarões poderiam, se quisessem, saltar para dentro do barco. Os espécimes que nos visitam são, na sua maioria, machos juvenis, com cerca de 2 a 3 metros de comprimento e muito impetuosos, deleitando-nos com ataques aos iscos, dando saltos no ar e cambalhotas na água. Um macho maior aproxima-se do barco, e a sua enorme silhueta, visível debaixo de água, ronda os iscos, nunca se aventurando à superfície... É como se já soubesse que o estão a enganar!

A ferocidade demonstrada por estes animais é inegável, mas não é diferente de qualquer outro predador de grande porte, marinho ou terrestre. No entanto, a sua vulnerabilidade é mais subtil, mais difícil de concretizar. Mas se notarmos na diminuição drástica dos números desta espécie no último século, fruto de uma caça intensiva por motivos desportivos ou económicos, e se nos lembrarmos que estes animais com sentidos aguçados têm de lidar com um meio ambiente cada vez mais invadido pelo Homem e afectado por alterações climáticas, que afectam as suas fontes de alimento, chegamos à conclusão que o Grande Tubarão Branco não tem a vida facilitada.

Tal como no caso de qualquer outro grande predador, quem invade o seu território arrisca-se a ser encarado como possível presa. Mas somos nós que invadimos o seu território, e não o contrário... Vejam-se os casos recentes de incidentes com banhistas e surfistas em praias californianas, australianas e sul-africanas.

Qual a resposta adequada? Certamente não será o medo irracional, nem a extinção de uma espécie. O ser humano tem de aprender a partilhar este planeta com todos os seres vivos, mesmo com aqueles animais que são nossos predadores potenciais. É aí que entra o trabalho científico, aprofundando o conhecimento da espécie, suas migrações e hábitos, mas também a divulgação junto do público em geral, por exemplo através de um tipo de turismo esclarecido e esclarecedor, que tem na Marine Dynamics um digno representante.


Nome: Marine Dynamics
Site: http://www.sharkwatchsa.com/en/home/
Morada: 5 Geelbek Street, Kleinbaai
Western Cape, África do Sul
GPS: -34º 36' 53.74", +19º 21' 10.75"
Tel: +27(0)799 309 694
Reservas: http://www.sharkwatchsa.com/en/contact-us/booking-enquiry/

Avaliação: *****

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