Se as baleias se escondem, exibem-se os pinguins

Viemos para Hermanus para ver baleias, esses gigantes do oceano que sempre me moveram e me fazem correr o mundo. No entanto, desse ponto de vista, Hermanus foi uma desilusão. Teoricamente a temporada para observação de baleias começa em Junho, assim como na Península de Valdes, na Argentina. Mas, aqui, as baleias são mais preguiçosas. Apesar de ser meados de Julho ainda são raras as baleias que se observam da costa. Tínhamos dois dias em que havia chance de as observar. Num dos dias fomos fazer Cage Dive. Pelo caminho poderíamos avistar baleias mas tal não aconteceu. No segundo dia em Hermanus tínhamos marcado com uma agência local um cruzeiro para observação de baleias. Devido ao mau estado do mar, o cruzeiro foi cancelado (vicissitudes de viajar no Inverno) pelo que só tínhamos hipótese de as ver da costa.


Em Hermanus existe um trilho chamado Cliff Path, que vai desde a cidade até à praia de Grotto, e perfaz cerca de 12 km. Resolvemos fazer parte do trilho na esperança de observar esses gigantes dos mares austrais. O tempo estava muito nublado, o mar agitado e ocasionalmente caia alguma chuva. Assim, o nosso trek foi infrutífero e não avistamos nenhuma baleia. No entanto, o trek, propriamente dito, é muito bonito, com ou sem baleias, e as paisagens e arribas de Hermanus não deixam ninguém indiferente.


A nossa epopeia em busca de baleias não iria terminar ali. Decidimos fazer de carro a costa de observação de baleias, linha costeira que se estende desde Gansbaai até Bettis Bay. Fomos parando nos melhores locais de observação, de acordo com Gail (a nossa anfitrião de Hermanus que nos deu dicas preciosas), entre eles De Kelders. Infelizmente, o resultado foi sempre o mesmo, não haviam baleias à vista. De acordo com o que pudemos apurar, as baleias começam a chegar no mês de Julho mas só em Setembro e Outubro é que andam mesmo activas junto à costa. Como a nossa viagem de barco tinha sido cancelada, a hipótese de as ver era muito reduzida. Desapontados, partimos em direcção ao Cabo Agulhas, o ponto mais a sul do continente africano. É aqui que se encontram os oceanos Índico e Atlântico, cujas perigosas e gigantescas ondas lembram as estrofes dos versos dos Lusíadas. 


Também no Cabo Agulhas é possível fazer um percurso a pé, com cerca de 2 km, para desfrutar das agruras da paisagem e contemplar a avidez das águas oceânicas. O farol do Cabo Agulhas apresenta-se majestoso, parecendo vigiar os nossos passos ao longo do percurso.


De regresso à costa de observação de Baleias, prosseguimos para Bettis Bay, no outro lado da baía de Hermanus, já na costa a caminho da Cidade do Cabo. Sem que avistássemos nenhuma baleia passamos para o plano B: visitar a maior colónia de pinguins Jack Ass da África do Sul. Num intrincado de saídas e becos acabamos por nos perder nos bairros de pescadores e quando chegamos à colónia já não era permitida a entrada. Desilusão foi a palavra no momento. Até me apetecia chorar. Os pinguins ali tão perto e eu sem conseguir vê-los. 


Mas, há medida que os minutos iam passando, os animais pareciam sensibilizados com o meu desapontamento e começaram a passar por baixo das cercas de vedação, saindo às dezenas para o exterior da reserva. 


Procuravam os ninhos escondidos nos jardins das casas e nos arbustos circundantes. Alguns aventuravam-se no mar gelado com mergulhos exibicionistas. A maioria era muito tímida. Esperavam disfarçadamente em grupos que nós nos afastássemos para poderem passar ao nosso lado. Quando viam que estávamos a vê-los ou a segui-los para os fotografar, corriam e escondiam-se nos arbustos. 


Parece que as águas geladas da Antárctida ainda não enviaram as baleias para a costa da África do Sul, mas os pinguins já chegaram para aproveitarem o Inverno livre de gelo. 


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