Despertar bem cedo pela madrugada
só pode significar uma coisa: vamos ter um grande dia. E este foi,
definitivamente, um grande dia.
O grande Mar de Areia é a área
arenosa e dunar por excelência do deserto da Namíbia. As dunas vermelhas
estendem-se por centenas de quilómetros paralelas à costa e atingem o seu
máximo na Big Daddy, com 380 metros de altura. Incrivelmente, as dunas não
movem a sua base já que as raízes das plantas permitem a sua fixação e a areia
apenas ondula no topo, de leste para oeste, devido à mudança da orientação dos
ventos predominantes nos meses de verão e inverno. Assim, as dunas são
numeradas e é possível subir à chamada Duna 45, uma espécie de ex-libris do
Namibe.
A ideia era apanhar o nascer do sol
no topo da duna e para tal tivemos que sair do acampamento de Sesriem às 5.30h
da manhã. Quando começamos a subir a duna, já havia alguma claridade, o que
dispensava o frontal, mas o sol ainda não tinha nascido. Demoramos cerca de
trinta minutos a chegar ao topo. O vento era avassalador e desequilibrava-nos,
tornando a progressão ainda mais difícil. À nossa frente, a areia voava e
entrava-nos pelos olhos dentro, dificultando ainda mais a subida. Quando
chegamos ao topo, já a máquina fotográfica tinha dificuldades em focar devido
ao pó e areia, mas testemunhamos um nascer do sol deslumbrante. Os primeiros
raios solares transformaram as dunas num vermelho vivo e brilhante, criando um
cenário verdadeiramente marciano.
Se a subida foi dificultada pelo
vento, a descida foi facilitada, já que nos deixamos correr duna abaixo com o
sol à nossa frente. Cá em baixo, Moyo, o nosso guia, esperava-nos com um
“american breakfast” delicioso.
Se o dia estava a ser
maravilhoso, o que se seguiu foi verdadeiramente arrepiante: Dead Vlei, uma
área plana, salgada, abandonada pela água e onde toda a vida morreu. Esta área
localiza-se entre duas dunas paralelas e é uma espécie de vale morto, estéril,
seco e esbranquiçado, contrastando com as dunas de areias vermelhas ao fundo.
Há várias árvores mortas o que
concede a este lugar um carácter singular e verdadeiramente enigmático. Apesar
do vento fortíssimo, o vale é relativamente resguardado e parecia que
deambulávamos em Marte. Esta é uma das paisagens naturais mais fantásticas que
já presenciamos.
Seguimos viagem, desta vez em
direcção ao canhão de Sesriem, bem perto do acampamento onde passamos a noite.
Face à profundidade e estreiteza do canhão, os raios solares não conseguem
iluminar o seu interior fora do meio-dia solar. Descer ao seu interior estéril
e seco é quase como viajar para o interior da terra, penetrando nos leitos
fluviais abandonados ao longo de séculos de clima desértico.
Mas, o Namibe, ainda tinha muito
mais para nos oferecer e a nossa viagem tinha que continuar. Depois de um
almoço no camião (devido ao vento que se fazia sentir), partimos para norte, em
busca de mais aventuras neste país abençoado pela mãe natureza.
Em Portugal, a empresa "Nomad - Evasão e Expedições" oferece uma viagem intitulada "Do Cabo ao Deserto do Namibe", que engloba este trajecto no deserto do Namibe.