A palavra "etosha" significa "grande sítio branco" e, embora obviamente não esgote tudo aquilo que o Parque nos mostra, mesmo à primeira vista, é realmente um bom resumo daquilo que os nossos olhos vêem quando estamos no centro deste que é o mais famoso Parque Nacional da Namíbia.
Curiosamente, o "grande sítio branco" já foi maior do que é. Pelo menos no que toca às suas dimensões oficiais. Quando, em 1907, o governador da então colónia alemã de África Sudoeste decidiu criar um Parque Nacional com o fim de preservação da vida animal, o Parque não era vedado (o que permitia as migrações dos animais, tal como o Parque de Serengeti) e tinha uma área de aproximadamente oitenta mil quilómetros quadrados (ou seja, um pouco menor do que a área de Portugal), mas ao longo do século XX foi sofrendo reduções até em 1970 atingir a sua área actual de cerca de vinte e três mil quilómetros quadrados.
A ocupar o centro do Parque, numa depressão do terreno, encontra-se
a Pan de Etosha, uma área plana desértica e salina, de área quase cinco mil
quilómetros quadrados (com comprimento máximo de 110 km e largura máxima de 60
km), totalmente vazia de vida excepto os poucos animais que se aventuram na
imensidão da planície (ou melhor, planalto, uma vez que nos encontramos a mais
de 1000 m de altitude), ou os poucos dias por ano em que, devido às chuvas fortes,
as águas dos rios Ekuma e Oshigambo transformam pelo menos parte da Pan numa
lagoa onde os flamingos e pelicanos se deleitam.
Aliás, todo o Parque é muito seco, tendo algumas nascentes
naturais permanentes, alimentadas por reservas de água subterrâneas. A estas
acrescem actualmente algumas fontes de água artificiais, em que a água é
bombeada do subsolo. Tanto umas como outras são a salvação da vida animal e o
que permite a sua fixação numa zona tão árida.
Curiosamente, a geografia e morfologia do Parque é a razão
da sua fama mundial e do seu carácter único, mesmo no que toca à observação de
vida animal. Isto porque a aridez do terreno e a escassez de pontos de água faz
com que os animais, de diferentes espécies, se reúnam na mesma área restrita e
acessível às objectivas das máquinas fotográficas dos turistas. É só esperar e,
mais cedo ou mais tarde, a procissão de espécies irá passar diante dos nossos
olhos.
Outro aspecto muito positivo do Parque é o facto de ter três
grandes e bem equipados acampamentos, distribuídos ao longo do contacto com a “margem”
sul da Pan. A entrada a sudoeste da Pan é feita junto ao acampamento de
Okakuejo, sede administrativa do Parque. Seguindo para nordeste, temos o
acampamento de Halali (aberto em 1967 e o mais recente), em cujas
redondezas se encontram um “Lookout” da Pan e as únicas colinas da parte
oriental do Parque, e o acampamento de Namutoni, situado no local onde os dois primeiros exploradores europeus acamparam quando descobriram
a Pan de Etosha em 1851.
Em todos os acampamentos, a grande atracção é o ponto de
água estrategicamente localizado junto à vedação (do lado de fora!) dos acampamentos.
É possível passar lá o tempo que se queira, aproveitando a verdadeira
passerelle de vida selvagem que certamente se seguirá. Nas nossas duas noites
no Parque, enquanto em Okakuejo, as estrelas foram dois leões macho, que
descansavam junto a um elefante bebé (morto), em Halali, pudemos testemunhar
uma verdadeira procissão de diferentes espécies a saciar a sede ao fim do dia,
nas quais se destacou uma manada de elefantes, liderada por um impressionante e
ruidoso macho, e um casal de rinocerontes em modos de preliminares.
Longe dos pontos de água (mas não muito!), também é possível
observar vida animal, muito diversificada no que diz respeito a aves, e se se tiver
sorte, como nós tivemos, até se pode observar um lindo leopardo, furtivo e camuflado,
abrigado à sombra de uma árvore.
DADOS PRÁTICOS:
É possível também explorar o Parque com carro próprio, mas tem de se ter em atenção que todos os portões (incluindo os dos acampamentos) abrem ao nascer-do-sol e fecham ao pôr-do-sol (na altura do ano que visitamos, fim de Julho, das seis da manhã às seis da tarde). Fora deste horário, só é possível percorrer o Parque em veículo do Parque, por exemplo em safaris nocturnos.
É proibido conduz ir fora de estrada, assim como sair do carro, excepto em locais designados para tal. O uso de telemóvel só é permitido nos portões e nos acampamentos, e fora destes apenas no caso de uma emergência. A alimentação de animais é proibida.
Por fim, devemos enfatizar que, apesar de tudo o que referimos, o Parque Nacional de Etosha não é um jardim zoológico (onde os animais não podem evitar ser vistos!), sendo que a qualidade e a quantidade de animais que são observados depende de vários factores, tais como o tempo que se tem disponível dentro do Parque, assim como da área explorada, mas também um que nada tem a ver com a qualidade do Parque que visitam ou com o profissionalismo do operador turístico: sorte! De forma a evitar frustrações desnecessárias quando se visita um local tão especial quanto este, aconselhamos o visitante a apreciar o momento e tudo aquilo que a Natureza lhe quiser mostrar. Tudo deve ser bem-vindo, pois tudo é uma dádiva da Natureza aos nossos olhos.