O rio Mekong é um marco para
qualquer geógrafo. Nascendo no planalto tibetano e sendo alimentado pelos gelos
dos glaciares dos Himalaias, este rio é um dos mais importantes do continente
asiático. No seu percurso, com mais de 4500 km, atravessa a China, o Myanmar, o
Laos, a Tailândia, o Cambodja e termina no Vietname. A foz do rio Mekong, tal
como o Nilo, é um delta, ou seja, o rio desagua em vários braços no Mar da
China.
Para explorar o delta do Mekong e
toda esta área do Vietname apanhamos um barco em Phnom Penh, capital do
Cambodja, que demorou 7 horas até chegar a fronteira e a cidade de Chau Doc, a
nossa primeira paragem no delta.
A caminho do Vietname, mas ainda
no Cambodja, paramos numa aldeia na margem do Mekong. As crianças correram para
nos ver e pediam que as fotografássemos. Esta aldeia era tão singular que não
havia uma única pessoa a pedir ou a tentar vender fosse o que fosse. Foi um
balão de ar fresco para quem vinha de Phnom Penh.
Depois de atravessar a fronteira
e chegar a Chau Doc, uma cidade magnifica na margem do rio, fomos abençoados
pelas chuvas de monção. Atravessamos a pé o mercado local ainda mais enlameado
do que o normal e arranjamos um hotel para dormir com vista sobre as casas
flutuantes e o rio. Lá fora chovia torrencialmente e nos estávamos todos
encharcados. Até eu (a muito custo) tive que admitir que assim não dava para
ver nada. Aguardamos um bocado e depois saímos. É a vantagem das monções...
tanto chove como a seguir vem bom tempo!
Não foi preciso muito tempo para
descobrir junto ao rio uma senhora que nos levou no seu barco a visitar os
canais e as casas flutuantes. Foi um passeio delicioso. O melhor que fizemos no
delta. O céu estava escuro e carregado de nuvens mas as cores do fim do dia
espreitavam por alguns instantes. O pequeno barco de madeira, construído com
base nos que aqui se utilizam há mais de 500 anos, cruzava os canais e braços
do Mekong.
Pelo caminho testemunhávamos o
dia-a-dia da população do delta. Em casas flutuantes sobre bidões e algumas
presas com estacas ao fundo do leito do rio, a vida decorria com normalidade.
Crianças brincavam nos barcos, adultos tomavam banho no rio, os pescadores
recolhiam as redes e os muçulmanos dirigiam-se para a mesquita, a vida seguia o
seu caminho como a água segue o seu percurso em direcção ao mar. Já era noite
quando regressamos a Chau Doc.
A partir de Chau Doc o rio que em
Vietnamita significa "rio dos nove dragões" divide-se em dois grandes
braços: o Mekong superior e o Mekong inferior. Decidimos explorar primeiro o
Mekong inferior. Assim, no dia seguinte apanhamos um transporte que não saberia
aqui descrever mas é algo entre uma bicicleta com atrelado e um reboque(!) até a estação de autocarros. Aí apanhamos um micro-bus para Can Tho, a nossa
segunda paragem no delta.
Can Tho é uma cidade grande, a
maior do delta, e é o melhor local para visitar os mercados flutuantes.
Infelizmente quando aqui chegamos já eram 11 h e os mercados estavam longe do
seu esplendor. Mesmo assim, decidimos ir ver os mercados e os canais num
passeio de barco durante duas ou três horas. O mercado era essencialmente
grossista e alguns barcos ainda estavam a vender os seus produtos. Cada barco
exibe os produtos que vende atados numa cana. Assim, os potenciais compradores
aproximam-se dos vendedores desejados.
Como estávamos com o tempo
contado e só tínhamos três dias para explorar o delta do Mekong decidimos
apanhar nesse dia um autocarro local ate Vinh Long, outra das cidades do delta,
mas desta vez na margem no Mekong superior. Conseguimos um quarto num hotel
baratucho mas descobrimos que também tinha a possibilidade de ser alugado à hora! Eu realmente achei estranho haver tantos preservativos disponíveis nas escadas
de acesso aos quartos!
Quando chegamos a Vinh Long fomos
mais uma vez agraciados pela chuva de monção mas ainda tivemos tempo para uma
pequena voltinha pela cidade, até porque por aqui não havia muito que ver.
Marcamos um passeio de barco para o dia seguinte. Queríamos ver os mercados
flutuantes no seu esplendor por isso o passeio começaria as 6.30 h da manhã.
E assim foi. Bem cedo
atravessamos os canais e chegamos ao mercado de Cai Be. Mais uma vez era um
mercado grossista e muito semelhante com aquele que vimos em Can Tho, embora
bastante mais pequeno. A grande diferença é que neste mercado há várias igrejas
católicas nas ilhas a volta. Ainda tivemos tempo para ver algumas plantações de
frutos (bastante abundantes nas ilhas do delta), fábricas de doces de frutas,
etc. O mais interessante foi uma fábrica de fazer tijolos que os cozia com as
cascas do arroz num forno enorme e bastante artesanal.
Ao final da manhã regressamos a
Vinh Long e apanhamos um micro-bus com destino a Ho Chi Minh. Para trás deixamos
o Mekong, os campos de arroz, as águas escuras do delta e a tranquilidade dos
canais. Dirigiamo-nos para a maior cidade do Vietname, a antiga Saigão, e
capital do Vietname do Sul durante a Guerra do Vietname.